Diálogos no Museu: A POTÊNCIA DO DANÇAR

Algumas manifestações de dança estão massivamente presentes no cotidiano, como em veiculações publicitárias, clipes musicais, séries televisivas, filmes e até no churrasco e na “balada” do final de semana; isto pode gerar a suposição de que elas são corriqueiras e facilmente apreensíveis, levando, muitas vezes, a serem presenciadas ou vivenciadas sem muita racionalização ou emoção. Entretanto, há milênios de história por detrás disso que se vê hodiernamente.

A dança está na raiz da própria intercomunicação humana. Antes de haver uma linguagem abstrata com signos e símbolos, essa comunicação dava-se por gestos que, dependendo de sua intensidade, cadência e amplitude, podiam significar coisas diferentes. Ou seja, o ritmo do movimento, de per si, já é carregado de significados subjacentes que os humanos desenvolveram e foram capazes de identificar durante sua evolução como espécie. Ritmo está igualmente no andar, comer, falar, nos batimentos cardíacos, nas fases do sono. Não é à toa que as primeiras expressões disso que hoje se identifica como dança, estavam intimamente ligadas aos fluxos da vida das comunidades humanas primitivas: nas cerimônias votivas às divindades, nas mudanças das estações, em ritos de passagem e celebrações diversas.

No decurso do tempo e com as diversas experimentações nesse sentido, essas formas de expressão corporal e dança, cada vez mais carregadas de sentidos simbólicos complexos, acabaram por se tornar uma linguagem própria. Porém, permanecem indelevelmente ligadas aos movimentos da fisicalidade humana, sendo representadas no tempo e espaço, com ritmo e harmonia que colocam em trabalho uníssono os músculos, os sentidos, as emoções e a mente, gerando conteúdo intelectivo e afetivo. Até por isso os gregos antigos, além de usarem a dança em seus rituais, utilizavam-se dela para o desenvolvimento de tônus muscular, do equilíbrio e noção espacial para seus guerreiros e atletas.

Durante o Medievo, na qual vigeu a moral cristã de Igreja Católica, a dança deixou de ser usada em rituais sagrados, posto que o corpo era tido como causa de pecado, recomendando-se que ele fosse refreado e até castigado. Todavia, nas festividades populares e em festas palacianas resquícios dela ainda ocorriam. Em meados do século XIV, porém, com o advento do Renascimento e do Humanismo, as potencialidades humanas voltam a ser o centro dos pensamentos e práticas e, em virtude disso, a dança praticada nas cortes começaram a ser entendidas como arte. No século XVI, o balé, inventado na Itália, é introduzido na França – inclusive, no século seguinte, Luís XIV (1638-1715) utilizou-se dele, na forma de dramatização (com um enredo, coreografias e figurinos específicos) para reafirmar o poder régio absolutista.

Com o final do Antigo Regime e a emancipação da burguesia capitalista, após as revoluções do século XVIII, há um golpe ao projeto cartesiano-kantiano da razão com a consolidação do Romantismo. O balé passa a ser apresentado em grandes espaços de espetáculo, como forma de mostrar o gosto e poder dessa nova classe, com ênfase na emotividade e subjetividade humanas. Contudo, o ritmo acelerado da industrialização europeia e as mudanças que isso causou na sociedade trouxeram, no final do século XIX, contestações à rigidez dos movimentos do balé clássico, bem como à estética de seus figurinos e estrutura cênica, ensejando a dança moderna. Já em meado do século XX, surge a dança contemporânea, que apresenta uma multiplicidade de formas de realização, uma vez que, para além dos aspectos técnicos de execução, nela também se leva em conta a criatividade e capacidade de improvisação do artista.

Destarte, parece ficar clara a potência que o dançar teve em toda a História, desde os primeiros movimentos de interlocução até as manifestações subjetivas mais particulares, como manifestações de fé, identidade cultural e para afirmação de classes sociais. A dança é, portanto, indissociável da própria humanidade, revelando toda sua carga simbólica, suas memórias e sua capacidade de ser no mundo. É por conta disso que o Museu da Cidade de São Paulo, por intermédio de seu programa Diálogos no Museu, traz Andrea Thomioka e Henrique Rochelle para conversarem sobre suas vivências e pensamentos acerca do tema.

Danilo Montingelli
Coordenador Geral
Programa Diálogos no Museu
Museu da Cidade de São Paulo
Secretaria Municipal de Cultura


Data: 17/04/2021
Horário: 15h
Duração: 120 minutos
Link para acesso: http://bit.ly/potenciadodançar
Acessível em libras